quarta-feira, 15 de junho de 2011

Impondo limites às crianças



Imposição de limites às crianças, fator fundamental para fortalecer comportamentos adequados e minimizar condutas indesejáveis, promovendo a sua adaptação no meio social e seu amadurecimento. Só aprendendo desde cedo a viver com limites, a criança tem condições de se transformar em um adulto responsável, capaz e autônomo.

Esta nova geração de crianças que hoje tem por volta de dez anos de idade, nos surpreende em relação a muitas coisas. Algumas maravilhosas e outras infelizmente, nem tanto.

Acostumada a lidar com jovens, ainda assim fico perplexa com a dificuldade que muitas crianças, mesmo as que desfrutam de situações sócio-educacionais adequadas, tem em internalizar normas sociais básicas de convívio em grupo e tenho procurado entender o que acontece com elas, sua família e a sua escola.

Tirando casos onde existem patologias envolvidas, mesmo assim encontramos um surpreendente número de demonstrações explícitas de comportamentos que apontam para a falta de reconhecimento de fronteiras nas comunicações sociais e não só entre iguais, mas em relação aos pais, aos professores e autoridades em geral. É freqüente assistirmos as crianças falarem alto, interrompendo os adultos, interferindo em assuntos que não lhes dizem respeito, mexerem e destruírem a propriedade alheia com um desdém espantoso, ofendendo, rejeitando e menosprezando sem qualquer cerimônia tudo que lhes pode oferecer algum tipo delimite ou desprazer. A situação piora muito se por acaso se sentirem frustrados, pois nesses casos chegam às raias da agressividade sem qualquer cerimônia.

De um plano mais amplo, acho que devemos olhar para o mundo que essas crianças conheceram ao nascer: um mundo que se diz globalizado. Não que eu pense que a globalização é a causa direta desse e de outros problemas , mas um dos lados menos felizes desse movimento é que criou em mentes pouco esclarecidas,perspectivas fantasiosas da ausência de limites, de fronteiras em muitas áreas, acabando por fortalecer e permear a idéia no que tange ao seu direito individual e de seus filhos.

Afinal, parece que nos tornamos potencialmente iguais, com os mesmos direitos, esquecendo-nos que com os mesmos deveres, o que mostra a fragilidade da concepção internalizada. Primeiro porque o que se vê hoje com freqüência é o postergar e o repassar para amanhã e para os outros, sejam esses nossos colegas, pais, governantes, etc, a responsabilidade e o enfrentamento das conseqüências de nossos atos. Segundo porque cada vez mais as crianças assistem a uma inversão de valores realmente catastrófica: "eu" tenho direitos e os "outros" deveres....os "espertos" são ganhadores , já os "certinhos"...

É preciso que os adultos, procurem urgentemente dentro de suas casas e de nossas escolas, recolocarem as coisas em seus devidos lugares: crianças são crianças, mãe é mãe, pai é pai, adulto é para ser respeitado porque tem maior experiência e portanto mais poder de discernimento.

Ensinar desde cedo às crianças que à pergunta: "você sabe com quem está falando", vale a resposta recíproca e que em todas as situações da vida há sempre quem manda mais porque tem maior responsabilidade sobre o resultado final. Obedecer é natural, não é crime e não dói: até no mundo dos irracionais é assim!

Há limites, fronteiras e diferenças entre as pessoas, enquanto ocupam posições, cargos, desenvolvem funções, educam filhos, dirigem escolas, conduzem associações, governam países....O chefe é o chefe, tem visão mais ampla, responde à comunidade pela condução de seus caminhos e aos subordinados cabe cooperar e respeitar seu limite de ação e escolha.

E isso se aprende quando ainda se usam fraldas: depois é muito mais difícil. Quer um pequeno exemplo? Quando o pai proíbe a criança pequena de comer mais um doce, ele pode e deve explicar o motivo, mas "negociar" a ordem está totalmente fora de cogitação. Assim a criança percebe o seu limite, a fronteira e a diferença entre ela e o pai e entende quem manda ali. E ainda mais importante: sente-se mais segura, mais protegida e aprende a viver em sociedade. Aos poucos internaliza a idéia de que há um espaço a partir do qual ela não pode ir, pois será responsabilizada por isso e terá que vivenciar as conseqüências.

Quando os comportamentos já estão arraigados, não resolve ameaçar, castigar, bater. A experiência têm mostrado que explicar detalhadamente as regras e as conseqüências das ações que as contrariam, parece ajudar efetivamente a internalizar as normas de conduta.

Não existe o tudo pode na vida real. Aliás, é sempre bom lembrar de uma pequena mas decisiva palavrinha que centraliza o fiel da balança em todas as relações humanas: o respeito. E esse sempre foi e percebe-se sempre será fundamental, até mesmo nesse maravilhoso mundo globalizado, se quisermos continuar a viver nele!.

Algumas sugestões/dicas da especialista, que embora não esgotem o assunto podem ser valiosas na educação dos filhos

·Procure ser claro, tranqüilo e firme ao explicar à criança a situação;

·Procure fazê-la entender como as outras pessoas se sentem quando ela age de maneira inconveniente;

·Demonstre que você não gostou do comportamento, mas o quanto gosta dela: a intenção não é tirar a espontaneidade da criança, mas sim normatizar seus atos;

·É importante dar exemplos simples, adequados à idade, de outras possibilidades para resolver o problema;

·As normas devem ser explicadas à criança como o meio mais eficaz de ter um bom relacionamento com a família, na escola e na sociedade;

·Mostre as conseqüências imediatas de sua conduta indesejada;

·É importante que o adulto esteja muito seguro das razões pelas quais está exigindo que a criança tenha este e não aquele comportamento;

·A disciplina depende em boa proporção dos exemplos dos adultos e da sua capacidade em estabelecer as regras. Fiscalize e esteja atento para reorganizar soluções dos problemas que venham a surgir, sempre de modo afetuoso e firme;

·É fundamental que a criança se sinta querida e respeitada e que perceba que as regras impostas são para sua segurança, aceitação social e desenvolvimento adequado;

·Adultos equilibrados despertam a confiança das crianças. Adultos impulsivos tendem a criar filhos com igual característica de comportamento;

·Devemos ensinar desde cedo às crianças a lidar com suas frustrações e controlar suas expressões de desagrado;

·Autocontrole e tolerância à frustração são aprendizagens indispensáveis para viver em sociedade e devem advir da família, na qual as primeiras figuras de autoridade são apresentadas às crianças.

Os pais devem lembrar-se de que:

·São os educadores primeiros e fundamentais. A escola só complementa a educação que os alunos trazem de casa;

·Educar é uma tarefa trabalhosa, que requer persistência e autodomínio. Buscar ajuda profissional é o mais indicado antes que as coisas fujam de controle;

·Ensinar a criança a conhecer-se dentro de suas potencialidades e limitações reais e incentivá-la a crescer de forma socialmente saudável faz parte da educação;

·Educar um filho para adaptar-se a todas as situações da vida é dar-lhe meios de conquistar a própria autonomia e felicidade;

·Educar nada tem a ver com compensar os filhos pelas carências vividas pelos seus pais;

·Permissividade, tolerância excessiva, não são percebidas pela criança como um ato de amor, mas sim como pouca valorização, pouca atenção para com ela;

·Cada filho, assim como cada pessoa, é único e as ações educativas devem por isso ser personalizadas. Mesmo irmãos gêmeos, são pessoas diferentes;

·Crianças precisam de liberdade conduzida, ou seja, limites. E de adultos no comando: "porque eu quero" ou "porque decidi que é o melhor" são frases que podem ser (parcimoniosamente) utilizadas pelos pais. A criança sente que há um adulto no comando.

·Crianças também aprendem por imitação: jamais seja contraditório com seus atos ou palavras com aquilo que ensina;

·A idade determina o grau de desenvolvimento e compreensão da criança. Não se pode agir no sentido de manter comportamentos infantis nos filhos tratando-os como se fossem mais jovens do que são e nem assustar os pequenos com exigências acima de sua capacidade, pois isso lhes tira o desejo de crescer;

·Jamais se desautorize ou desautorize outro adulto que lida constantemente com a criança. Antes, discuta e decida como agir com a criança nas diversas situações que se apresentam;

·Castigos devem ser usados com cuidado e nunca em momentos de nervosismo dos pais, pois terão de ser cumpridos pela criança, caso anunciados e

·A criança deve sempre aprender algo com a experiência vivida. Ser mais cuidadosa consertando algo que estragou, repor com um dos seus brinquedos o que perdeu de seu amigo ou limpar o que propositalmente sujou.
Maria Irene Maluf
Pedagoga Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial

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